Marielle vive!

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Já se passaram 6 anos deste crime e ainda não temos a certeza de quem mandou matar Marielle, tirando a vida também do motorista Anderson, e por que.

Marielle era vereadora no RJ, mulher negra, bissexual e mãe, era uma ativista feminista e defensora dos direitos humanos. Marielle foi assassinada pq ela ousava lutar contra um sistema que usa todas as suas armas para que mulheres como ela não estejam em lugares de poder.

Por isso o 14 de março marca uma data de luta pelo enfrentamento à violência política de gênero e de raça. As pessoas que ocupam os espaços de decisão, seja no legislativo, executivo ou judiciário, têm nas mãos o poder sobre os corpos das mulheres. Especialmente sobre os corpos das mulheres pretas, pobres, mães solo, mulheres com deficiência, mulheres idosas, porque são elas que carregam nas costas o peso de tudo aquilo que o estado não consegue suprir. E o que o Estado consegue ou não consegue suprir, são escolhas políticas.

Quando o Prefeito de São João del-Rei decide repassar 1 milhão e meio de reais para o Atlhetic, enquanto centenas de crianças aguardam vagas nas creches da cidade, ele faz uma escolha política que incide diretamente sobre a vida das mulheres. E isso acontece o tempo todo, de diferentes formas, e na grande maioria das vezes, as mulheres que são penalizadas por escolhas políticas feitas por homens.

Espaços urbanos

A produção do nosso espaço urbano se dá pautada por relações de poder que são extremamente desiguais. As cidades reproduzem relações de poder e dominação entre gêneros, entre raças, entre classes, que limitam o exercício do direito à cidade de maneira justa e equilibrada entre todas e todos, como deveria ser.

Os espaços urbanos e, por consequência, a vida urbana, são então produzidos sob a ótica patriarcal, sob a ótica dos homens brancos, adultos, de classe média e heterossexuais. Portanto, a nossa construção social de cidade, reflete as divisões de papéis tradicionais entre os gêneros, que reservam à mulher o âmbito doméstico e ao homem os espaços públicos.

À mulher, foram atribuídos todos os papeis sociais relacionados à produção e à reprodução da vida, as tarefas de cuidado, com as crianças, os idosos, os enfermos, a casa, tarefas invisíveis e não reconhecidas como trabalho. Já aos homens cabem as tarefas produtivas, do público, que são visíveis, valorizadas, remuneradas. Não à toa vimos a Vereadora Lívia Guimarães ser mais de uma vez atacada nesse espaço, que deveria ser um espaço democrático. Não à toa nós vimos um homem mandá-la ir cuidar do seu bebezinho, já que é esse o lugar que o patriarcado nos quer. Não é à toa que ela começou a ser alvo de fakenews, assim que lançou sua pré-candidatura à prefeitura de SJDR. Esse é o jogo da sociedade misógina, que não quer mulheres nos espaços de poder. Então, ao mesmo tempo que são as mulheres que gastam maior energia e tempo pra compensar a falta de acesso a serviços e equipamentos, são elas que ficam excluídas dos espaços e debates públicos, dos espaços de decisão.

Assim, as cidades se tornam, cada vez mais, espaços hostis à presença de crianças, idosos, mulheres, jovens, pessoas com deficiência, pessoas da comunidade LGBT. E São João del-Rei é um exemplo nítido de uma cidade pensada apenas para um gênero, para uma classe, para uma raça, que representa uma minoria da população, mas que, historicamente, é detentora do poder. Que esse ano a gente comece a mudar essa realidade. Pelo fim da violência política de gênero e por mais mulheres nos espaços de poder.